Para os autores da pesquisa, divulgada hoje (26) pela Fiocruz, houve atraso na adoção de medidas necessĂĄrias para o controle da doença, e isso provocou grande nĂșmero de mortes evitĂĄveis.
Coordenador do Observatório de SaĂșde na Infância, iniciativa da Fiocruz com a Faculdade de Medicina de Petrópolis do Centro Arthur de SĂĄ Earp Neto (Unifase), Cristiano Boccolini alerta que essas crianças e adolescentes necessitam, com urgĂȘncia, da adoção de polĂticas pĂșblicas intersetoriais de proteção.
"Considerando a crise sanitĂĄria e econômica instalada no paĂs, com a volta da fome, o aumento da insegurança alimentar, o crescimento do desemprego, a intensificação da precarização do trabalho e a crescente fila para o ingresso nos programas sociais, é urgente a mobilização da sociedade para proteção da infância, com atenção prioritĂĄria a este grupo de 40.830 crianças e adolescentes que perderam suas mães em decorrĂȘncia da covid-19 nos dois primeiros anos da pandemia", afirma o pesquisador, que é um dos autores da pesquisa.
A morte de um dos pais, e em particular da mãe, estĂĄ ligada a desfechos adversos ao longo da vida e tem graves consequĂȘncias para o bem-estar da famĂlia, acrescenta a pesquisadora do Laboratório de Informação e SaĂșde do Instituto de Comunicação e Informação CientĂfica e Tecnológica em SaĂșde (Icict/Fiocruz), Celia Landmann Szwarcwald.
"As crianças órfãs são mais vulnerĂĄveis a problemas emocionais e comportamentais, o que exige programas de intervenção para atenuar as consequĂȘncias psicológicas da orfandade."
O dado sobre órfãos é uma parte da anĂĄlise dos pesquisadores sobre a mortalidade causada pela pandemia de covid-19 em toda a população. Outro ponto destacado pelo estudo é que a covid-19 foi responsĂĄvel por mais que um terço de todas as mortes de mulheres relacionadas a complicações no parto.
Os pesquisadores calculam que, em 2020 e 2021, a covid-19 foi responsĂĄvel por quase um quinto (19%) de todas as mortes registradas no Brasil. Durante o pico da pandemia, em março de 2021, o paĂs chegou a contabilizar quase 4 mil óbitos pela doença por dia, nĂșmero que supera a média diĂĄria de mortes por todas as causas em 2019, que foi de 3,7 mil.
O estudo indica ainda que a mortalidade entre analfabetos chegou a ser de 38,8 mortes a cada 10 mil pessoas, enquanto a média da população brasileira foi de 14,8 mortes para cada 10 mil pessoas.
Para estimar o impacto da escolaridade na mortalidade por covid-19, os pesquisadores utilizaram dados de óbitos pela doença e a distribuição da população brasileira por nĂvel de escolaridade da Pesquisa Nacional de SaĂșde. Os resultados mostram que entre adultos analfabetos a mortalidade por covid-19 foi trĂȘs vezes maior que entre aqueles que concluĂram o ensino superior.
A pesquisadora da Fiocruz Wanessa da Silva de Almeida lembra que a escolaridade e outras caracterĂsticas socioeconômicas afetam o prognóstico da covid-19 e outras doenças. "A desigualdade socioeconômica acarreta iniquidades no acesso aos serviços de saĂșde e, consequentemente, dificuldades no diagnóstico oportuno e no tratamento dos casos."
Os autores do estudo destacam que o maior peso da mortalidade nos indivĂduos de menor escolaridade reflete o impacto desigual da epidemia nas famĂlias brasileiras socialmente desfavorecidas, sendo ainda maior entre as crianças e adolescentes que se tornaram órfãs e perderam um dos provedores do sustento da famĂlia.
Fonte: AgĂȘncia Brasil
Fonte: AgĂȘncia Brasil