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"Nem no recreio": pesquisadores da educação criticam celular na escola

Por Agência Brasil em 08/11/2024 às 09:50:58

Foto: Agência Brasil

O uso por crianças e adolescentes do telefone celular nas escolas deve ser evitado porque gera riscos e prejuĂ­zos, tanto de aprendizagem como emocionais. Essa é uma opinião dividida por especialistas na educação, como os professores Claudia Costim (ex-diretora de educação do Banco Mundial), Luciano Meira (especialista em gameficação) e Rossandro Klinjey (psicólogo e que faz palestras sobre educação emocional). Eles foram ouvidos sobre o assunto pela reportagem da AgĂȘncia Brasil.

Os trĂȘs pesquisadores estão em diferentes atividades no REC'n'Play, evento de tecnologia no Recife. O tema da proibição dos celulares em sala de aula encontra-se em tramitação no Congresso Nacional. Inclusive, o projeto de lei que trata sobre o tema foi aprovado na Comissão de Educação da Câmara dos Deputados na semana passada


"É preciso brincar"

A professora Claudia Costim argumenta que crianças e adolescentes não tĂȘm ainda o córtex pré-frontal maduro para ter autorregulação sobre o dispositivo eletrônico.

"Especialmente no ensino fundamental, eu entendo que não se deveria usar celular na escola. Nem no recreio. Porque também faz parte da aprendizagem da criança e do adolescente viver em sociedade, brincar ao ar livre", defendeu.

A ex-diretora de educação do Banco Mundial ponderou que seria preferĂ­vel que fossem utilizadas outras ferramentas que não são portĂĄteis, como o notebook ou o tablet para usar em finalidades pedagógicas. "Além disso, é importante que os pais regulem o celular em casa para não atrapalhar tanto o sono de crianças e adolescentes".

"Muitos professores estão se queixando que as crianças chegam exaustas em sala de aula e não interagem com seus colegas. Eu sou a favor da proibição e uso só como ferramenta assistiva no caso de crianças com deficiĂȘncia para determinadas finalidades", disse Claudia Costim.

Não adianta só proibir

O professor Luciano Meira, que também é psicólogo e atua na Universidade Federal de Pernambuco nas ĂĄreas de educação, inovação e empreendedorismo, aponta que, no geral, é positivo o projeto de proibir o celular em sala de aula. "Mas não hĂĄ uma estratégia pedagógica adequada". Ele avalia que não existem recursos nem uma polĂ­tica de formação docente para usar de forma pedagógica os dispositivos móveis.

O pesquisador considera que a proibição é uma forma inclusive de se apoiar as famĂ­lias que estariam perdidas diante da invasão do celular no dia a dia dos filhos.

"Mas, ao mesmo tempo, vocĂȘ concorre para o aumento da desigualdade. Às vezes, a escola é o Ășnico lugar onde muitas crianças teriam acesso a tecnologias digitais sofisticadas. E, com a proibição, isso as afasta das redes de ensino e da possibilidade de capturar artefatos digitais. Não adianta só proibir".

No entender do pesquisador, a proibição pode ser interessante se o uso pedagógico for apoiado por polĂ­ticas pĂșblicas que façam sentido.

Controle do tempo

Para o professor e psicólogo Rossandro Klinjey, não hĂĄ mais dĂșvidas de que o celular em sala de aula traz impactos negativos.

"A gente não precisa demonizar, mas controlar o uso e o tempo disso fora da sala de aula. Isso é fundamental. Tanto que entendo que jĂĄ existe um consenso sobre isso".

Se o celular não deve ser utilizado, a educadora Claudia Costim entende que as tecnologias de inteligĂȘncia artificial devem ser trazidas para a sala de aula com o objetivo de começar a ensinar o uso de uma maneira mais pedagógica. "É o momento de ensinar a navegar com segurança nas redes sociais. Então, hĂĄ algum uso que pode acontecer no ensino fundamental e na educação infantil", diz a professora.

Formação de professores

Para ela, a inteligĂȘncia artificial apresenta ameaças e oportunidades. "Ameaças de extinção acelerada de muitos postos de trabalho e de usos não éticos dos dados e das imagens. Por isso, regulação é muito importante".

Por outro lado, a educadora entende que pode ser uma ferramenta muito poderosa para ajudar a estruturar o pensamento. "É fundamental formar os professores para o uso da inteligĂȘncia artificial e depois eles poderem trabalhar com usos interessantes com seus alunos", afirmou.

* O repórter viajou a convite do Porto Digital



Fonte: AgĂȘncia Brasil

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