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Falta de diagnósticos para Alzheimer preocupa especialistas

Por Agência Brasil em 24/09/2023 às 20:34:14

Dados do 1Âș Relatório Nacional de DemĂȘncias - a serem publicados até o fim de 2023 - devem mostrar uma situação preocupante para a saĂșde pĂșblica no Brasil. A quantidade de pessoas não diagnosticadas com a Doença de Alzheimer deve estar na faixa de 75% a 95%, dependendo da região brasileira, segundo adiantou à AgĂȘncia Brasil a médica e pesquisadora Claudia Suemoto, da Universidade de São Paulo (USP).

O relatório encomendado pelo Ministério da SaĂșde - e coordenado pela professora Cleusa Ferrim da Universidade Federal de São Paulo - deve apontar, por exemplo, que o nĂșmero de pessoas com a doença pode estar na faixa dos 2,4 milhões. A doença é conhecida pela perda progressiva de memória, entre outras consequĂȘncias. A incidĂȘncia é majoritariamente entre pessoas idosas.

"As taxas de não diagnóstico no Brasil são alarmantes. Quando vimos inicialmente os dados, pensamos que estavam errados. Recalculamos e era isso mesmo. A gente precisa ter mais conscientização sobre o Alzheimer. HĂĄ ainda estigmas", afirma a pesquisadora. A campanha de 2023 para o MĂȘs de Conscientização para o Alzheimer (Setembro Roxo) traz o tema "Nunca é cedo demais, nunca é tarde demais", com foco maior na prevenção.

"Quanto mais a gente falar, muito menos não diagnósticos a gente vai ter. HaverĂĄ menos estigma e mais prevenção", afirmou a professora.

O professor de medicina Einstein de Camargos, da Universidade de BrasĂ­lia, explica que a realização do diagnóstico precoce possibilita mais possibilidades de intervenções. "Não só com medicamentos, mas sobretudo com terapias cognitivas, estimulação, terapia ocupacional, exercĂ­cio fĂ­sico, fazendo com que esse processo seja mais lento". Ele entende que, mesmo havendo subnotificação da doença, hĂĄ maior visibilidade dos casos de Alzheimer.

Maior fator de risco

Especialistas apontam que hĂĄ um consenso de que, dentre os fatores de risco para a doença, hĂĄ um deles que não é propriamente da ĂĄrea de saĂșde: a baixa educação.

"Esse é um fator modificĂĄvel para os quadros demenciais (como é a doença de Alzheimer). Se a gente melhorar a qualidade da educação, por exemplo, do povo brasileiro, a gente vai diminuir os risco para demĂȘncia. Inclusive esse é o fator de risco mais importante no Brasil", afirma a professora Claudia Suemoto.

O professor Einstein de Camargos, da UnB, entende que esse dado é extremamente importante porque mostra que a maior prevenção não estĂĄ dentro da ĂĄrea da saĂșde em si. A escolaridade pode ser transformadora para a saĂșde em diferentes sentidos. E nesse caso é orgânico.

Os médicos explicam que a resistĂȘncia aos efeitos do adoecimento devem estar relacionados à reserva cognitiva que uma pessoa tem. "Se a pessoa teve uma maior estimulação cognitiva durante a vida, vai ter uma 'poupança' maior, com grande nĂșmero de neurônios", afirma a professora

ResistĂȘncia

O que se observa no cérebro de pessoas que desenvolveram a doença de Alzheimer é o acĂșmulo de proteĂ­na beta-amilóides. Quanto maior a "força" cerebral mais resistĂȘncia haverĂĄ contra a presença da proteĂ­na. Camargos elenca que essa resistĂȘncia estĂĄ, além do aumento da escolaridade, na redução do tabagismo, no controle do diabetes e da pressão arterial.

É, então, boa notĂ­cia que são fatores de risco modificĂĄveis na vida do indivĂ­duo e da sociedade. Claudia Suemoto aponta que se estima que 48% dos casos são relacionados a fatores de inĂ­cio de vida (baixa escolaridade), da meia idade (hipertensão arterial, perda auditiva, traumatismo craniano, obesidade e consumo excessivo de ĂĄlcool) e da terceira idade (diabetes, tabagismo, depressão, isolamento social, poluição ambiental e falta da atividade fĂ­sica).

"São todos fatores simples, mas bastante prevalentes. Se a gente modificasse a frequĂȘncia deles na população, a gente estaria prevenindo demĂȘncia, com certeza", diz a professora. Uma boa notĂ­cia é que as melhores condições de vida diminuem os casos novos.

Evoluções

Se, por um lado, hĂĄ subnotificação, segundo a professora Claudia, o que tem acontecido nos Ășltimos 10 anos principalmente para a doença de Alzheimer é que tem melhorado muito o diagnóstico. Na década passada, quando havia uma queixa de memória, a pessoa fazia alguns testes no consultório.

"Só que atualmente a gente consegue medir proteĂ­nas depositadas no cérebro e que são associadas a doença de Alzheimer". Foi o médico Alois Alzheimer quem descreveu a doença no inĂ­cio do século 20, identificando lesões cerebrais.

Antes, porém, não era possĂ­vel medir essas proteĂ­nas com pessoas vivas. Atualmente jĂĄ é possĂ­vel medir essas proteĂ­nas no liquor (o lĂ­quido que envolve o cérebro). Mas, para fazer o exame era preciso um procedimento muito invasivo. Hoje, o exame se tornou mais acessĂ­vel com auxĂ­lio da medicina nuclear.

Remédios

A médica Claudia Suemoto entende que hĂĄ também alguma evolução nos medicamentos. "Hoje em dia, a gente jĂĄ tem trĂȘs drogas que limpam essa proteĂ­na beta-amilóide com resultados promissores. Limpam essas proteĂ­nas em pessoas com a doença mais leve. Então, a gente estĂĄ tentando entender quais são os efeitos a longo prazo", avalia Claudia.

Ela contextualiza que existe efeito colateral nessas drogas que precisam ser avaliados. "É tudo muito novo, mas finalmente a gente tem uma medicação que parece mexer no mecanismo da doença", opina.

Einstein de Camargos avalia que os medicamentos ainda saem muito caros e estão longe ainda da aplicabilidade.

Procura por ajuda

Os médicos explicam que queixas de memória são sintomas mais conhecidos relacionados à doença. Lembranças do presente, fatos importantes do passado, nomes de pessoas tornam-se desconhecidos para quem tem a doença. Mas é possĂ­vel identificar como possĂ­veis sintomas também pela perda de planejamento e confusão mental.

"A pessoa tinha afazeres domésticos e estĂĄ tendo uma certa dificuldade. Não consegue mais dirigir, lembrar a rotina? Esses fatores são os que mais chamam atenção no dia a dia. Fora isso, deve-se ter atenção do ponto de vista do comportamento fora do habitual. A pessoa deve procurar um médico para afastar a doença de Alzheimer como primeira causa", exemplifica Camargos.

Sono e atividade fĂ­sica

Especialistas concordam ainda que existem medidas de prevenção fundamentais para evitar a doença, e passam também por necessidade de repousar. "Quem dorme menos de seis horas por noite aumenta o risco em 35% de ter demĂȘncia. Pesquisas dos Ășltimos 10 anos mostraram que dormir bem faz o cérebro limpar as toxinas do dia", revela.

E quando se estĂĄ acordado, é importante atividade fĂ­sica. Pesquisadores da Universidade de BrasĂ­lia estão desenvolvendo um estudo detalhado para apontar a influĂȘncia do exercĂ­cio fĂ­sico nesse sistema de limpeza cerebral. "Eu vou usar um termo simples. Precisamos encontrar os garis do cérebro que precisam trabalhar melhor e com mais condições. Assim, a gente vai ter uma redução dessa doença", finaliza.

Fonte: AgĂȘncia Brasil

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