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Polícia investiga desvio de vacinas e desrespeito a prioridades no Rio

A Polícia Civil do Rio de Janeiro vai apurar denúncias documentadas apresentadas pelo Conselho Regional de Enfermagem do Rio de Janeiro (Coren-RJ) de desrespeito a...

Por Agência Brasil em 26/01/2021 às 22:21:36

A PolĂ­cia Civil do Rio de Janeiro vai apurar denĂșncias documentadas apresentadas pelo Conselho Regional de Enfermagem do Rio de Janeiro (Coren-RJ) de desrespeito a prioridades por profissionais da categoria na vacinação contra a covid-19 no estado.

Em reunião com o delegado Thales Nogueira, os inspetores Rafael Ferreira e Carlos Guerra; a presidente do Coren-RJ, Lilian Behring, a vice-presidente, Ellen Peres e a procuradora FĂĄbia Souza informaram casos de desvio de vacinas, que acabam beneficiando os fura-filas. As denĂșncias, registradas em todo o estado do Rio, vão servir de base para as investigações da PolĂ­cia Civil. A reunião foi ontem (25) no Departamento Geral de Combate à Corrupção, ao Crime Organizado e à Lavagem de Dinheiro (DGCOR-LD).

"No dia 20, fomos surpreendidos no Conselho Regional de Enfermagem por inĂșmeras denĂșncias, que começaram logo após a deflagração da campanha nacional de imunização, que, em sua maioria, eram de não priorização da equipe de enfermagem na vacinação", disse Lilian Behring, em entrevista à AgĂȘncia Brasil.

De acordo com a presidente do Coren-RJ, enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem estavam sendo preteridos por outros grupos na hora da vacinação. "TĂ­nhamos pessoas que não estavam recebendo vacinação trabalhando em CTI [centro de terapia intensiva], emergĂȘncias, Samu [Serviço de Atendimento Móvel de UrgĂȘncia], e isso continua", afirmou LĂ­lian.

Ela disse que, em 24 horas após o inĂ­cio da vacinação, o conselho recebeu denĂșncias em quase metade dos municĂ­pios do estado, o que o levou a montar uma força-tarefa para apurar as ocorrĂȘncias. "A função do conselho é fiscalizar o exercĂ­cio legal profissional, que estava sendo preterido, porque se nós, profissionais de enfermagem, que somos os que vacinam, não recebemos a vacina, colocamos em risco a população a ser vacinada e poderĂ­amos colocar em risco o Programa Nacional de Imunização, porque não estĂĄvamos tendo prioridade."

Para o Coren-RJ, o cruzamento de dados por meio do CPF e as informações passadas pelos relatórios das instituições de saĂșde serão fundamentais para verificar quem foi vacinado. O conselho quer também a colaboração dos responsĂĄveis técnicos das instituições para ter dados sobre abusos e privilégios. Todas as denĂșncias devem ser anotadas para que sejam encaminhadas à autoridade policial, o que permitirĂĄ controle do fluxo de vacinação.

As denĂșncias vão desde desvio de vacinas às furadas de fila por autoridades que levam a famĂ­lia para se imunizar. Lilian destacou que os profissionais passam também por coação e recebem ameaças, sem condição de reagir. Por causa das investigações, não se pode revelar o nĂșmero de denĂșncias jĂĄ registradas, que aumenta a cada dia, nem as regiões, os nomes e onde trabalham os profissionais , ressaltou LĂ­lian. "Tudo isso estĂĄ em sigilo por motivo óbvio", afirmou, lembrando que os profissionais da linha de frente no combate à covid-19 e na vacinação são extremamente vulnerĂĄveis às questões de violĂȘncia.

A presidente do Coren-RJ informou que a categoria reĂșne cerca de 300 mil profissionais no estado, dos quais 42 mil são enfermeiros e os demais, técnicos e auxiliares de enfermagem. Destes, 129 mil trabalham na capital, onde foi feita a maioria de denĂșncias, o que levou à primeira reunião do conselho com autoridades para discutir o assunto. Segundo LĂ­lian, no encontro o secretĂĄrio municipal de SaĂșde, Daniel Soranz, comprometeu-se a tomar medidas para coibir qualquer desvio com relação à vacina.

"Estamos com os conselheiros do Conselho Regional de Enfermagem do Rio de Janeiro em todas as regiões do estado do Rio de Janeiro e, além de receber as denĂșncias, indo in loco para ver a situação dessas pessoas", afirmou Soranz.

Para reforçar as investigações do DGCOR-LD o conselho terĂĄ o apoio da própria enfermagem para relatar casos de abusos, de privilégios indevidos e outras irregularidades. O controle evitarĂĄ o desabastecimento para a segunda dose, uma vez que cada CPF estarĂĄ relacionado às duas doses da vacina. "Quem vacina tem que ser vacinado, prioritariamente", defende o Coren-RJ.

No encontro com o delegado Thales Nogueira, ficou acertado que, em 48 horas, a polĂ­cia receberĂĄ dados sobre o nĂșmero de vacinas em estoque e as pessoas imunizadas e cruzarĂĄ essas informações para evitar possĂ­veis desvios. "O desvio de doses da vacina implica crime de infração de medida sanitĂĄria e, dependendo do caso, pode resultar em peculato-desvio, corrupção ativa e passiva, que tĂȘm penas que chegam até 12 anos de reclusão", explica a PolĂ­cia Civil.

AgĂȘncia Brasil


Fonte: AgĂȘncia Brasil

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