Pesquisa da Universidade de BrasĂlia (UnB) estĂĄ tentando entender melhor as variantes do novo coronavĂrus presentes no Distrito Federal (DF). Para isso, estão sendo feitos sequenciamentos dos genomas de cepas encontradas na capital. No mundo todo foram identificadas cerca de mil cepas do vĂrus.
Nas amostras do Distrito Federal foram identificadas cinco cepas do vĂrus Sars-Cov-2, causador da covid-19. Entre as cepas jĂĄ sequenciadas, trĂȘs delas chamam atenção de pesquisadores e cientistas pela alta capacidade de replicação, pelo alto poder de transmissão e ainda pela possibilidade de causar quadros mais graves da covid-19. São elas: P-1, encontrada originalmente em Manaus e predominante no DF; a P-2, no estado do Rio de Janeiro; e a N9, em São Paulo.
A professora do Departamento de Biologia Celular do Instituto de CiĂȘncias Biológicas (CEL/IB) e integrante da equipe na Universidade que tem sequenciado o vĂrus, Anamélia Lorenzetti, explica que a avaliação da diversidade genômica é importante para conhecer quais variantes virais estão circulando no Distrito Federal e poder correlacionar com a epidemiologia da doença.
Segundo o coordenador do Laboratório de Microscopia Eletrônica e Virologia do Instituto de CiĂȘncias Biológicas da UnB, Bergmann Ribeiro, a partir do sequenciamento do genoma é possĂvel desenvolver terapias e vacinas especĂficas para essas novas mutações, ainda podendo prever o nĂvel de transmissão de cada cepa. "O sequenciamento é importante para conhecer o vĂrus e saber como ele estĂĄ se adaptando e mudando",
Conhecendo o genoma do vĂrus, também é possĂvel chegar a uma vacina direcionada às variantes. "As plataformas de vacina podem ser modificadas rapidamente e eu consigo fazer vacinas para essas variantes, mesmo que elas mudem, se tornem mais patogĂȘnicas", explicou o pesquisador.
O cientista comparou com a vacina contra o vĂrus da gripe. "[Com o sequenciamento do genoma] eu consigo fazer vacinas especĂficas para cada variante, e essas vacinas vão ser provavelmente modificadas a cada ano para se adaptar ao vĂrus. Como o vĂrus estĂĄ mudando, vocĂȘ vai produzir novas vacinas, como acontece hoje em dia com o vĂrus da gripe, no caso H1N1 e outros vĂrus, que surgem todo ano". Segundo o pesquisador, todos os anos são feitos sequenciamentos dos genomas desses vĂrus para saber quais estão circulando e produzir a vacina para combatĂȘ-lo.
Para este estudo das variantes do novo coronavĂrus, outro grupo fundamental é o da informĂĄtica. Eles desenvolvem programas que ajudam na anĂĄlise do sequenciamento e na comparação das sequĂȘncias virais com as sequĂȘncias que foram produzidas nos bancos de dados do mundo.
Ainda em março de 2020, um grupo de professores do Instituto de CiĂȘncias Biológicas (IB-UnB), realizou o primeiro sequenciamento do genoma do novo coronavĂrus no Distrito Federal. A UnB foi a terceira universidade brasileira a realizar o procedimento no paĂs. Mas com a alta no consumo de insumos e a pequena oferta no mercado global, hospitais, laboratórios e centros de pesquisa do mundo inteiro tiveram de refazer seus cĂĄlculos para que a produção e os atendimentos aos sistemas de saĂșde não fossem totalmente paralisados.
Levando em consideração o aumento do valor de insumos necessĂĄrios para dar continuidade ao sequenciamento do Sars-Cov-2, os procedimentos foram pausados por um perĂodo em 2020 e retomaram em janeiro de 2021.
"Os recursos são essenciais para a realização desta iniciativa, pois os insumos são importados. Para se ter uma ideia, o custo por amostra sequenciada sai entre 600 e mil reais. Não é barato. Além disso, é necessĂĄrio ter pessoas especializadas na preparação das amostras e para a realização das anĂĄlises dos dados gerados no sequenciamento", pondera Bergmann Ribeiro. E ainda sinaliza a demora na chegada dos insumos no Brasil. "Nossa equipe realizou a compra de materiais ainda no começo de 2020, mas acabou sendo feita a entrega pelos fornecedores apenas no fim do ano em novembro."
De acordo com Bergmann Ribeiro, o Brasil ainda faz pouco sequenciamento do novo coronavĂrus. "O Brasil fez no mĂĄximo 5 mil sequĂȘncias, e no mundo mais de 1 milhão de coronavĂrus jĂĄ foram sequenciados".
O pesquisador salientou a importância de o paĂs investir em pesquisa. "O paĂs como nação deveria pensar mais na ciĂȘncia e investir mais na formação de recursos humanos capazes de responder rapidamente a esses problemas", ressaltou e completou: "nós conhecemos vĂĄrios vĂrus novos nas Ășltimas décadas, nós não sabĂamos o que era zika vĂrus em 2015, não sabĂamos o que era o chikungunya, surgiu o H1Ni, o coronavĂrus. Então esses vĂrus vão aparecendo ao longo do tempo e precisamos estar preparados, e para isso tem que ter gente boa, gente formada pelas universidade, e para isso tem que ter pesquisa cientĂfica, tem que ter dinheiro pra financiar essas pesquisas", pontuou.
*Com supervisão de Aline Leal
Fonte: AgĂȘncia Brasil
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Fonte: AgĂȘncia Brasil