"Assim como inĂșmeros parlamentares, ele [do Val] solicitou uma audiĂȘncia. Eu o recebi no salão branco e o que ele me disse foi que o deputado Daniel Silveira o teria procurado e ele teria [então] participado de uma reunião com o [ex-]presidente da RepĂșblica [Jair Bolsonaro]", disse Moraes ao participar, por vĂdeo, de um evento realizado pela Lide, em Lisboa.
"A ideia genial que tiveram foi colocar uma escuta no senador [do Val] para que ele, que não tem nenhuma intimidade comigo, me gravasse para que, com isso, pudessem solicitar a minha retirada da presidĂȘncia dos inquéritos", acrescentou Moraes.
"Indaguei ao senador se ele reafirmaria isso e colocaria no papel [pois, desta forma] eu tomaria seu depoimento imediatamente. Ele me disse que, infelizmente, não poderia confirmar [o relato oficialmente]. Então, me levantei, me despedi e agradeci a presença do senador. Porque, para mim, o que não é oficial não existe", continuou o ministro.
Apesar da recusa inicial, o senador acabou por revelar a história à revista Veja – que a transformou na matéria de capa da edição que circula a partir de hoje. Antes que a revista chegasse às bancas, do Val falou sobre o assunto em uma transmissão ao vivo, em seu perfil no Instagram. Durante a live, ele chegou inclusive a anunciar que planejava deixar a atuação polĂtico partidĂĄria.
Diante da repercussão das declarações de do Val, o próprio ministro Alexandre de Moraes determinou que a PolĂcia Federal colhesse seu depoimento – o que foi feito ontem (2). Hoje, Moraes disse que "tudo ainda estĂĄ sendo apurado", mas ridicularizou o suposto plano para constrangĂȘ-lo.
"Esta tentativa de uma operação tabajara mostra exatamente o quão ridĂculo chegamos na tentativa de um golpe", comentou o ministro.
Presente no evento, o ex-ministro do Desenvolvimento, IndĂșstria e Comércio Exterior do governo Lula, Luiz Fernando Furlan, perguntou a Moraes sobre como as autoridades pĂșblicas responsĂĄveis por tomar decisões às vezes impopulares lidam com o reconhecimento pĂșblico e o consequente risco de serem vĂtimas de agressões. Furlan mencionou que Moraes é, hoje, mais conhecido no Brasil que muitos jogadores de futebol, ao que o ministro rebateu dizendo ganhar "bem menos" que os atletas".
- Mas ninguém pode te dar um cartão vermelho, ministro, brincou Furlan.
- Tentaram me dar o cartão vermelho, mas o VAR não permitiu, reagiu Moraes, se referindo ao assistente de vĂdeo usado para conferir penalidades no futebol.
Ainda durante o evento, o ministro comentou que os financiadores da divulgação de informações falsas e dos ataques aos TrĂȘs Poderes que culminaram com a invasão e a depredação do PalĂĄcio do Planalto, do Congresso Nacional e da sede do SFT, no dia 8 de janeiro, estão sendo identificados. De acordo com Moraes, muitas dessas pessoas agem "não só por ideologia, por gosto polĂtico, mas sim por questões econômicas, jĂĄ que acabam sendo economicamente favorecidas".
O ministro também voltou a defender a regulamentação das mĂdias sociais, explicando que, embora o assunto seja controverso e ainda não haja um exemplo mundial a ser seguido neste sentido, o principal objetivo, a ser ver, é equiparar a atividade das empresas de tecnologia responsĂĄveis por redes sociais à de companhias de mĂdia tradicionais.
"O que se defende é exatamente que as mĂdias sociais deixem de ser consideradas empresas de tecnologia, passando a ser responsabilizadas pelo que divulgam. Que estas empresas passem a ter a mesma responsabilidade que empresas de mĂdia que ganham e arrecadam com publicidade", defende o ministro. "Não se trata de analisar conteĂșdo previamente ou de estabelecer a necessidade de autorização para veicular algo – o que a Constituição Federal jamais permitiria, mas quem tem a coragem de publicar discursos de ódio, antidemocrĂĄtico, ofensas pessoais, deve ter a coragem de se responsabilizar. O binômio liberdade com responsabilidade vale para a mĂdia tradicional, televisiva e escrita e, a meu ver, deve também valer para as mĂdias sociais", defendeu Moraes.
Fonte: AgĂȘncia Brasil